Como suas histórias conquistam corações também

Histórias unem pessoas, mesmo se forem confusas? Não tenha medo: compartilhe histórias sinceras e atraia conexões verdadeiras. | A Tal Jornada Criativa, Roteiro #03

Como assim, que história é essa, Marvin?

Eram 15:47 de um domingo preguiçoso e Marvin, um senhor de 72 anos, estava com sua família na sala de estar de sua casa.

Marvin é um senhor simpático, levemente tímido e sempre sereno — com um sorriso que raramente deixava seu rosto.

Enquanto se divertia com todos, lembrou-se de uma história pessoal engraçada e começou a contar:

— Haha e ela, que caiu na floricultura e foi direto pro cemitério haha! 😂

Todos à mesa olharam para ele, com cara de espanto.

— Como assim Marvin, quem morreu?! 😨

— Não, não… é que ela foi visitar o avô que tá lá no cemitério… 😀

— De quem você tá falando? Explica direito, Marvin… 😮

— A Nanci… é que ela foi na floricultura e (haha) não viu a árvore e… ploft! Ela ralou o joelho, mas salvou a flor haha! 😆

Se você não entendeu direito, está tudo bem… eu também não entendi.

Isso porque Marvin tem muita dificuldade para contar qualquer história.

Seu maior problema é ir direto para as melhores partes, sem dar qualquer contexto. Porém, na cabeça dele, tudo faz sentido.

No final, vira um jogo de investigação da história “quebra-cabeças” e é o que arranca risadas verdadeiras.

Mas, por que algumas pessoas têm essa dificuldade para contar histórias simples?

Prepara a sua mochila e vamos a essa jornada das histórias confusas!

Pelo menos, essa confusão tem contexto

Contar histórias pode ser uma tarefa difícil para quem pensa de um jeito diferente ou, só não tem o hábito de fazê-lo sempre.

E ainda pode haver um passado onde expor ideias e opiniões não era um estímulo saudável.

Por isso, a confusão de Marvin não é só um traço de personalidade, porque também reflete sua história de vida.

Como é o caso da pessoa que inspirou o personagem desta jornada, que cresceu num ambiente sem comunicação aberta e sob regras rígidas.

Isso resultou em um hábito que, na vida adulta, afeta a forma como compartilha suas experiências.

Mesmo com as provações da vida, ela é agradável e sorri para todos até hoje, como o Marvin.

A seguir, com a ajuda do Marvin, compartilho histórias inspiradas nas que já vivenciei com esta pessoa:

Resposta curta e confusa

Aonde você foi mesmo, Marvin?

Marvin chega em casa com três sacolas nas mãos. Curiosa, sua esposa lhe pergunta:

— Nossa Marvin, que sacola grande! O que você trouxe aí? 😮

— Ah, fui no vizinho buscar as jabuticabas que ele separou pra mim. 😀

— Ué! E você foi até a farmácia com essa sacola pesada? 😯

— Não, não… fui buscar meu remédio lá e aproveitei pra ir na padaria pegar pão… 😉

— Mas carregando as jabuticabas? 🤨

— Não, não… primeiro peguei meu remédio e depois que eu fui lá no vizinho, né! 🙄

Marvin faz isso direto: só se preocupa em responder logo o que fez por último.

Bom, errado não está… o problema é deixar de contar o que aconteceu antes. Ou seja: ele não insere o contexto.

Isso também pode ter a ver com a escolha confusa das informações antes de falar. Mas, é só um hábito e não falta de educação ou maldade.

E quem perguntou é que acaba se virando para decifrar e montar o quebra-cabeças.

Porém, além de dar uma versão embaralhada, pode ser só por…

Falta de prática

Marvin e as flores amarelas da Nanci

Era um sábado de manhã tranquilo, e proseando com uma amiga na praça, Marvin começa:

— Ontem, a Nanci saiu de casa pra ir no cemitério pra colocar flores lá pro avô dela. 😀

— Que bonito, Marvin! Ela tem muito carinho por ele, né? 🥰

— Isso, isso! E também foi aniversário de falecimento dele, né. 🤗

— E ela comprou as flores na floricultura da Maria Flor? 🙂

— Ah não, ela foi catar as flores do supermercado Precinho Bom… 🙂

— Nossa, parece até que ela pegou as flores que ficam na entrada de lá e correu pro cemitério hahaha! 😆

— É, ela pegou as flores amarelas, porque o avô gostava de amarelo né… 😀

— Ela roubou as flores mesmo?? 😮

— Não né, ela pagou direitinho! 🤨

— Affe Marvin, conta direito essa história hahaha! 😅

Que velhinho mão leve hein… só que não (ufa!).

Seja como for, no caso de Marvin, a falta de prática não significa não contar as histórias. Ela as compartilha, mas tem dificuldade na construção de uma narrativa que faça sentido ao ouvinte.

Além disso, tem o fato de não saber se expressar bem, um reflexo da falta de estímulos para conversas quando criança.

Por isso, é comum Marvin usar palavras erradas ao narrar uma história e confundir até os mais atentos.

Mas, curiosamente, essa falta de prática é o que torna suas histórias tão engraçadas — mesmo quando é sobre algo bonito.

Só que, ainda assim, quem ouve precisa ordenar a bagunça para entender a história.

Claro, ainda tem o fator emocional, uma tal de…

Ansiedade, a figurinha carimbada

Todo mundo se diverte com o Marvin durante as refeições

No almoço de domingo, todos conversaram animados.

Ao se lembrar que o tio foi passear com o cachorro Max, Bruno começa a interação:

— Tio Marvin, você foi até a praça levar o Max pra passear ontem, né? Como foi? 😀

— Ah, mas foi engraçado haha! O Max foi, foi e (haha)… ploft! Caiu no bueiro hahaha! 😆

— Caramba, e o Max se machucou muito?? 😥

— Não, não… o bueiro tava tampado né… aí ele correu tanto que tropeçou nele mesmo, haha! 😄

— É, o Max tem pernas compridas mesmo… mas pra quê que ele correu tanto? 🤔

— Haha, é que antes ele levou um susto com um gato grandão haha! 😆

— Eita, e o gato correu atrás de vocês? 😯

— Ah não, o gato fugiu também porque não é bobo né! 😏

— Mas e o Max saiu correndo e te arrastou junto? 😐

— Cê tá doido rapaiz? Eu soltei o bicho e ele se esborrachou sozinho! 😕

— Ainda bem hein, tio Marvin! 😂

Com intenção de contar logo sua história divertida, Marvin pulou logo para o final — de novo.

Só que ele deixou tanta coisa para trás que a história até ter perdeu a graça, mas sua autenticidade rendeu outro lado cômico.

Querendo contribuir com seus dois centavos, Marvin se deixou levar pela ansiedade na hora contar sua história. Até essa emoção dá um jeito de aparecer nessas horas.

Longe de ser como o medo de falar em público: a ansiedade faz pular logo para a parte mais engraçada, com intuito de fazer todos rirem também.

E vai além disso: essa ansiedade reflete uma vontade genuína de se conectar com os outros.

Mesmo assim, dar atenção aos detalhes tem o seu valor, pois é assim que uma história ganha vida e significado para todo mundo.

Agora, que tal uma dica para organizar suas histórias?

Um caderno para registrar suas histórias mais simples será seu melhor amigo

Conte suas histórias

Em resumo, contar histórias (confusas ou não) criam e reforçam laços preciosos, tanto os profissionais quanto os de amizade.

Todos nós contamos histórias, com ou sem intenção. E todas são únicas, pode acreditar: ninguém ouve ou vive as mesmas histórias exatamente como você.

Ao longo da vida, acumulamos experiências genuínas na mochila de jornada — nem sempre organizadas, mas sempre valiosas.

Mesmo que existam muitos Marvins por aí se comunicando mal, a autenticidade torna cada um deles querido à sua maneira.

Portanto, não tenha vergonha de contar suas histórias por achar sem graça, como eu já tive. Contar histórias é uma arte que precisa de prática.

Mas, há um ajuste bacana a fazer: mesmo que a história fique confusa, não se apegue à vergonha e divirta-se também, pois a sua emoção influencia quem está à sua volta.

Contudo, vale um cuidado: não se rebaixe para que todos riam de você, para evitar ferir o seu coração!

Por exemplo, ao invés de pensar:

  • “Sou burro/burra mesmo, não sei contar história”, vá na linha de “Vou melhorar… mas tá todo mundo rindo, então já valeu” — se a história for engraçada.

  • “Droga, não sei falar nada direito”, troque por “Deixa eu resumir e começar de novo” — se a história for mais séria (dê-se uma chance!).

É isso mesmo.

Dê-se uma chance, porque você também pode acolher o seu próprio coração.

Conte suas histórias, organizadas ou não, mas do seu jeito.

Dica: caso queira contar mais histórias e acha que não tem de nada interessante, faça um diário.

Mesmo que você seja a única pessoa a ler, pois o que conta são os principais fatos do seu dia-a-dia. Observe, também, a ordem dos acontecimentos.

Podem haver coisas que você pode achar bobagem na hora, mas anote. Porque, depois, a bobagem pode ser uma mina de ouro.

Além disso, você treina também a organização e a forma de contar suas próprias histórias.

Melhor ainda: nesses tempos de IA, nenhuma delas vai escrever um texto coerente com o que está nas suas memórias, porque só você tem acesso e o poder de documentá-las.

Recomendo uma ferramenta digital para registrar tudo e acessar de qualquer lugar, como Notion, Evernote, Google Docs…

“Ah, mas prefiro um caderno de verdade e caneta, pode também?”— demorou, só vai! ❤️

Aliás, Marvin, ao perceber que se atrapalha bastante com suas narrativas, resolveu escrever o diário também. Afinal, o caderno não irá julgá-lo e, por isso, pode escrever à vontade.

— “Querido diário, vou te contar o que aconteceu hoje.” 🙂

— “Fui no médico com a Nanci hoje de manhã. É a minha filha, sabe?“ 🙂

— Aah não, antes de ir lá, a gente tomou tomou café na padaria… deixa eu começar de novo… 🤔

Força, Marvin. Além dele, eu também estou preenchendo o meu diário todos os dias. Com certeza, será o melhor banco de ideias e memórias que posso ter.

Por fim, que tal contar mais de suas próprias histórias?

Obrigada pela sua companhia e até a próxima jornada!

Um beijo no coração,

Cris Saito 🧭

Bônus do Marvin

Ô pai, fala direitinho com a secretária hahaha!

Ah sim, a timidez também interfere. Vou poupar detalhes, já que a situação é bem parecida com a ansiedade.

Marvin foi ao consultório médico cedinho com sua filha, Nanci. Na recepção, uma linda secretária o recebe sorridente:

— Bom dia senhor, tudo bem? ☺️

— Hã… bom dia… tudo bem sim! 😳

— Que ótimo! Tem horário agendado com quem? 😊

— Isso, isso, eu sou o Marvin… 😳

Nanci, vendo a confusão do pai, interfere:

— Pai, você tem que falar qual é a consulta, tem outros médicos aqui! 🤨

— Ah é… é às oito e meia né… 😐

— Pai, é com o Dr. Mauro hahaha! 😄

Era o que a secretária precisava:

— O senhor tem consulta com o Dr. Mauro às oito e meia, certo? Trouxe os exames? 😃

— Ah sim, trouxe sim… 😐

— Tá tudo certinho! É só aguardar, tá? 😊

— Tá bom,’brigado! 🙂

Enquanto andavam, Nanci, achando graça, ri do pai:

— “Queisso” ‘Seu’ Marvin, tá até com a orelha vermelha! Vou contar pra mamãe, hein hahaha! 😆

— “Tsc”, que besteria Nanci! 😕

Não deu pra encaixar no texto, então, veio como um bônus mesmo.

Quase azedou 🍋‍🟩

🍋‍🟩 Queria ter escrito esse Roteiro de um jeito caótico. Mas o bom senso me pegou pelo cangote e me deu um sermão ardido, porque é saudável bagunçar a cabeça de quem lê. Fora que isso custaria a minha sanidade…

🍋‍🟩 Estava louca para começar este Roteiro. Inesperadamente, tive um bloqueio criativo no processo. Acontece… mas espremi, não saiu na força, me conformei, relaxei e… fluiu.

🍋‍🟩 Revisões são indispensáveis: como deixei este Roteiro fermentando por um tempo como um pão. Quando voltei, revisei o texto e, para a minha surpresa, AINDA BEM que fiz tudo isso. Tava cheio de erros! Mas, ainda bem que escrevi.

🍋‍🟩 De qualquer forma, o bloqueio me mostrou algo importante: por mais que eu queira muito criar, meu cérebro não é de aço. Ele também cansa e se recusa a trabalhar sob (muita) pressão. É por isso que revi a agenda de escrita, antes que fosse tarde demais.

Reflexão semanal

"As histórias são como sementes que plantamos no coração das pessoas.”

— Autor anônimo —

É por isso que boas histórias, bem contadas ou não, são as sementes que germinam e ficam pra sempre na vida das pessoas.

Contar histórias é algo que já vem instalado de fábrica no seu cérebro. Mas é uma habilidade como outra qualquer, que precisa ser treinada e atualizada, assim como um computador precisa de atualizações de tempos em tempos.

Além disso, quanto mais cativante for a sua história, mais as pessoas vão querer te ouvir.

É a minha meta com estes Roteiros de jornada 😉

As histórias são a cola que mantém a sociedade unida.

— Neil Gaiman —

😘

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